cover
Tocando Agora:

Psycho Carnival 2018 - Organização, Trabalho e Muito Wreck!

O Psychobilly Brasil conversou com Neri, vulgo Orleone Recz (Orleone Records & Mamuteprod Booking), baterista do Sick Sick Sinners, do The Mullet Monster Mafia e um dos organizadores do Psycho Carnival sobre como é o processo de composição deste espetáculo. Line-up, contatos, dificuldades e curtição - saiba como gira a engrenagem do maior Festival de Psychobilly da América Latina.

Psycho Carnival 2018 - Organização, Trabalho e Muito Wreck!
Psycho Carnival 2018 - Organização, Trabalho e Muito Wreck! (Foto: Reprodução)

O Psycho Carnival

Novembro chegou, as lojas já estão todas enfeitadas com árvores de Natal e bugigangas de todo o tipo, mas o evento futuro que não sai da cabeça dos zumbis de plantão, além do 13º salário, é o Psycho Carnival que acontecerá em fevereiro de 2018. O evento, que chega na sua 19ª edição, vem com tudo para aterrorizar a vizinhança do centro de Curitiba nas suas noites de show. Serão 5 noites de pura adrenalina para ninguém botar defeito.

Meteors no Carnival 2017. Foto: Pri Oliveira - Cwb Live

PB - Olá Neri, agradeço a sua disponibilidade de participar do Psychobilly Brasil, falando um pouco do Psycho Carnival, que terá sua 19ª edição em 2018. Quais são as expectativas para este evento que ficará marcado na história do festival ?
Neri - Fala Diegão. Antes de tudo queria te agradecer pelo espaço e dizer que mesmo nesse mundo de informação tão rápida é fundamental o trampo e o tempo que você tem dedicado ao Psychobilly Brasil. É muito importante que tenhamos canais como este, que vejo como uma atualização dos antigos fanzines/revistas. Uma cena é composta por bandas, amigos, selos, e meios de divulgação como o Psychobilly Brasil. Obrigado por estar somando com a cena. (N.E.: Muito obrigado. Todo este trabalho, e o seu reconhecimento, nos dá a certeza de estar trilhando no caminho certo e nos dá mais ânimo de continuar em frente!!)
Sobre o PC18, estou convicto que esta será uma das edições mais cascudas da história do Festival. Neste ano incluímos a quinta feira na programação, visto que sempre foi uma data que se fez presente paralela ao evento, indo para 5 noites. No total serão 27 bandas em 5 noites de festa intensa no Jokers Pub; até o momento contamos com 15 bandas do Brasil, e mais 12 de fora, vindo da América do Sul, Estados Unidos e Europa. Vai ser histórico!!!

B - Para colocar tudo isso em ordem deve ser uma loucura. Como é o processo de organização do line-up nos dias do festival?
Neri - Cara, organizar um festival como o Psycho Carnival é um trampo que leva meses. São vários os fatores que influem na definição do line-up, e além disso ainda temos de respeitar nosso histórico e fazer com que tudo funcione comercialmente, visto que precisamos fechar a conta (o que nem sempre acontece).
Para montar o line-up, nós analisamos que bandas estão ativas, quem está produzindo material novo, quem está na estrada fazendo tour, promovendo sua música, etc, ou seja, somando pra que a coisa aconteça, se fortaleça. O Festival é como um retrato de nossa cena ano após ano. é assim que o vemos e por isto é muito importante que tenhamos no palco grupos que estejam ativos, com o sangue no olho, dando seu melhor e respeitando o público presente, que além de pagar seu ingresso em muitos casos se desloca de longe e ainda tem custos com hospedagem, alimentação, etc. Levamos isto muito a sério e é complicadíssimo definir esta grade, porque precisamos unir todos estes pontos e ainda criar um evento que seja atrativo aos nossos amigos.

PB - Sobre o convite às bandas, acredito que com as nacionais sejam bem mais fáceis de conseguir contato, acertar as agendas, deixar tudo pronto para a participação em uma das noites. Mas as internacionais? Com quanto tempo antes a organização começa a fazer os contatos para definir as participações?
Neri - Nos últimos anos temos antecipado cada vez mais a produção do ano seguinte. Para 2018 começamos a trabalhar no Festival em Maio/Junho deste ano. Acredito que atingiremos o formato ideal quando pudermos divulgar parte do line-up do ano seguinte no último dia do evento de cada ano. Mas ainda levará alguns anos para isto acontecer.
As bandas do exterior estão sempre atentas ao Psycho Carnvial porque quem ainda não veio quer vir e quem já veio sempre quer voltar, então normalmente não temos problemas com estes agendamentos, por vezes acontece, mas é algo raro. Com as bandas do Brasil é um pouco mais difícil (acredite ou não), porque há bandas que não podem tocar na sexta, outras dizem só ter disponibilidade para um dia específico, etc. Normalmente montamos o remontamos a grade de bandas entre 15 e 30 vezes até atingir o formato final, visto que os ajustes são constantes em busca de um equilíbrio em cada uma das noites.
Precisamos levar em conta a qualidade, a "força" que cada uma das bandas tem perante o público presente, a localização geográfica e também a sonoridade de cada um, pois não podemos ter uma noite somente com bandas de uma cidade, ou que possuam exatamente as mesmas influências, sendo assim, é um grande quebra cabeça, montado e remontado várias e várias vezes. Tenho de lhe dizer que um dos grandes acertos dos últimos anos foi a inclusão de estilos que caminham paralelamente ao Psychobilly no Festival, como o Surf, Garage, Country'a'Billy e nas últimas edições o Punk Rock. Isto foi uma coisa que aprendemos em alguns Festivais na Europa, e tem funcionado muito bem.

PB - O fator financeiro é crucial para trazer as bandas?
Neri - Seria injusto dizer que o fator financeiro não influi, mas não é o fator crucial de uma maneira geral. No caso das bandas que vem do exterior posso dizer que o fator financeiro tem de ser levado em consideração por motivos óbvios, mas não definem se uma banda vem ou não, salvo algumas exceções, como o Reverend Horton Heat por exemplo. Seria incrível tê-los no Festival, mas é praticamente impossível encaixá-los na nossa realidade, porque o valor que nos pedem + todos os custos logísticos de trazer uma banda a América do Sul gera um número impossível de atingir. Mas na maioria dos casos acabamos utilizando outro critério.
Por exemplo, em 2018 teremos o Batmobile novamente, eles estiveram no Carnival em 2006, 2012 e agora vão voltar porque lançaram um disco novo, uma banda da grandeza do BATMOBILE, editando um disco novo (o que não fazem desde 1997) é muito bem vinda de volta. O Frantic Flinstones tem uma ligação forte com o Brasil e em especial em Curitiba, onde o Chuck morou por alguns anos e inclusive gravou e lançou um dos melhores discos de sua vasta discografia. Como a banda vai encerrar as atividades, eles nos pediram para fazer o último show da banda nos palco do Psycho Carnival, isto é uma honra inenarrável e não havia outra possibilidade senão colocá-los no line-up. Eles poderiam escolher qualquer festival do mundo para fazer isto, mas o farão aqui e estamos seguros que será um show inesquecível, memorável!!!

PB - E qual foi a banda mais difícil de trazer até hoje?
Neri - Rapáiz... Pergunta unha de responder, porque o Psychobilly é uma locura né bitio, como o próprio nome já o diz. A cena mundial não é gigantesca, não são muitos os nomes "grandes", os "medalhões" ativos no circuito, e cada um tem sua particularidade. Nós já trouxemos vários destes grandes nomes ao Brasil e posso te assegurar que cada uma delas tem sua particularidade. As vezes é mais tranquilo, as vezes se aproxima do caos, mas é assim que é... Quem acompanha a produção do Carnival mais de perto já acompanhou histórias inacreditáveis...

PB - Imagino o desespero que deve ser no meio de tudo isso (risos). No próximo ano parece que teremos um número recorde de bandas internacionais certo?
Neri - Sim, se nada mudar teremos 12 bandas "gringas" na escalação do PC18. 03 da América do Sul, 04 dos Estados Unidos e 05 da Europa. É um número recorde no Festival e estamos muito felizes por ter a oportunidade de trazer esta quantidade de bandas ao Brasil. Isto era inimaginável nos primeiros anos do Carnival, e prova que tanto o Festival como a cena Psychobilly na América Latina esta crescendo e se solidificando, sendo reconhecida mundialmente.

PB - E qual o motivo de, diferente dos anos anteriores, o line-up ser apresentado em duas partes?
Neri - Soltamos um primeiro flyer no dia 12/Setembro pra mostrar parte das atrações da edição de 2018, anunciando o início das vendas dos pacotes online, dando a oportunidade da zumbizada adquirir o primeiro lote de pacotes para 3 e 4 noites ao mesmo valor dos ingressos do ano passado. A partir do dia 20/Novembro quando divulgaremos o line-up completo, já com a escalação das bandas com horários e dias e que vão tocar, nós iniciaremos as vendas de ingressos para cada uma das noites individuais e os valores dos pacotes serão reajustados.

PB - Podemos considerar o Jokers Pub como o melhor lugar para receber o evento, no seu porte atual?
Neri - Nós voltamos ao Jokers quando estávamos fazendo o Curitiba Rock Carnival ao mesmo tempo do Psycho Carnival, então precisávamos de um local já estruturado, somente para organizar o show (música), visto que o Festival diário era muito intenso e nos tomava muito tempo. Com o final do CWB Rock Carnival, optamos por permanecer no Jokers até o momento por ser uma casa bem localizada, estruturada e que atinge todos os requisitos para atender o nosso público, além de obviamente todos gostarem do local. Não sabemos com exatidão como serão as edições futuras, temos pensado em algumas alterações na estrutura do Festival mas ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa. Sendo assim, no momento eu acredito que sim, o Jokers e a nossa melhor opção na cidade de Curitiba.

Carnival 2017. Foto: Acervo Psychobilly Brasil
PB - E com toda a correria de organização durane o Festival, você consegue parar para ver algum show inteiro?
Neri - É difícil bitio... Normalmente o último dia é mais tranquilo porque as peças já se encaixaram e a coisa flui melhor, mas por outro lado é o dia que estamos mais moídos de cansaço. Já perdi muitos shows que gostaria de ter visto, e também já fugi da produça e fui pro wreck em algumas ocasiões, mas normalmente pra mim e pro Vlad é muito mais trampo que diversão. Ainda assim vale a pena demais por ver a rapaziada toda ali reunida se divertindo junta, curtindo uma sonzera e mantendo a chama acesa, algo que nos mantém vivos. Tenho orgulho de ajudar a fazer algo como o Psycho Carnival.

PB - Como você acha que está a cena Psychobilly atualmente? Estamos evoluindo, se consolidando e ganhando mais espaço?
Neri - Acho que a cena mundial vem gradativamente abrindo os olhos as diferentes vertentes que surgiram dentro do estilo com o passar dos anos, isto é muito positivo porque fomenta o Psychobilly e possibilita com que uma rapaziada mais nova se identifique com o que tá rolando. O Psychobilly como quase todos estilos é mutável, pode e deve ter várias faces; de bandas mais pesadas as mais clássicas, e acho que podemos ver isto nas bandas que vem surgindo no cenário. Eu particularmente estou muito feliz com a evolução e crescimento da cena na América Latina; acho que é o lugar onde a cena mais cresce no mundo atualmente. Bandas como o Luizons do Paraguai estão construindo uma cena por lá, assim como o Salidos De La Cripta, na Colombia, Surfin Caramba, no Chile, Los TXK e Gatos Locos, no Equador, e até na Argentina a coisa começa a se consolidar com bandas novas e a realização de um Festival. É muito importante que além da música, as bandas tenham a consciência que produzir shows, organizar Festivais, fazer intercâmbio com bandas de outras cidades/estados e países é algo extremamente saudável e fundamental para o crescimento e consolidação da cena como um todo, e temos visto isto de forma constante na América Latina, o que era impossível anos atrás. A pouco estivemos na Colômbia (com o Sick Sick Sinners) e tivemos a oportunidade de dividir o palco com bandas de 3 países diferentes, Paraguai, Colômbia e México, cada uma com a sua identidade e todas com um nível altíssimo, o que me surpreendeu positivamente. Sobre a cena brasileira posso dizer que temos bons nomes, mas eu acho que ainda precisamos de uma renovação mais sólida, eficaz, real, com sangue nos olhos.

PB - Particularmente, não consigo enxergar uma recaída, mas sim, uma maior abrangência do estilo, inclusive, se inserindo em outros cenários. Para você, esta abertura, se podemos dizer assim, de certa forma poderia arraigar tendências e influências que ocasionariam em uma perca de qualidade ou da identidade do Psychobilly, ou você vê isso como uma evolução natural?
Neri - Acho vazio quem diz que Psychobilly real é apenas o clássico, até porque sua criação nos remete a fusão de outros estilos. Acho que a renovação é saudável e fundamental, e isto passa pela absorção de novas influências. Até as bandas novas que fazem o Psychobilly "clássico" possuem referências atuais, é natural. Eu gosto muito de bandas como Krewmen, Frenzy, Banane Metalik, Asmodeus, DAG, Numbskulls, Frogs, Caravans, Spellbound, Catalépticos, Klingonz, Meteors, Meantraitors, Mad Sin, Dragstrip Demons, Mad Mongols e outras, e cada uma tem sua maneira de tocar e não há como dizer que não tocam Psychobilly. É necessário que as vezes sejamos menos radicais quanto a isso. Logicamente gostar ou não é um direito, mas temos de respeitar. Existem muitas bandas que não gosto, mas não posso julgar ou classificá-las pelo meu gosto, o Psychobilly é maior do que isso.

Carnival 2017. Foto: Acervo Psychobilly Brasil

PB - Andando junto neste caminho evolutivo, a cada ano vemos o crescimento do festival e o reconhecimento em diversas mídias e um público novo e diferente a cada edição. Chegamos a quase 20 anos de Psycho Carnival sem perder o pique. Podemos concluir que a expectativa e a realidade dos dias do evento são satisfatórias para a organização?
Neri - Diegão, vou te falar que dentro do que planejamos acredito que sim. Nós vivemos intensamente a cena, porque além de fazer o Psycho Carnival também organizamos o Psychobilly Fest e estamos tocando constantemente pelo Brasil, América do Sul, Europa e Estados Unidos. Isto nos mantém próximos ao que esta acontecendo e temos uma percepção real de como esta a cena atualmente. Para nós é um orgulho fazer esta festa que une os amigos, junta pessoas que tem algo único em comum para se divertirem e desfrutar de bons momentos regados a boa música em um lugar "féra". Atingiremos o ponto ideal quando conseguirmos fazer o Fest sem o risco de não equalizar as contas, como acontece todos os anos, mas faz parte do jogo onde vivemos.

PB - E falando em 20 anos de evento, já tem algo no papel para a comemoração deste aniversário em 2019?
Neri - Ainda não temos nada planejado, sabemos que é uma data especial e certamente será comemorada com toda festa que merece, mas ainda temos de por na pista o PC18 que está com um line-up dos mais cabulosos da história. Vamos surpreender muita gente no dia 20/Novembro quando todas as bandas forem divulgadas. Estou seguro que a edição de 2018 será histórica!!! Marquem na agenda ai o compromisso firmado entre 09 e 12 de Fevereiro/2018 e se preparem pro Psycho Carnival mais matador dos últimos anos!!! Stay Loco zumbizada, e nos vemos no WRECKIN!!!

Ouça abaixo a playlist do Psychobilly Brasil no Spotify, com as bandas que participarão da 19ª edição do Psycho Carnival 2018.



Stay Psycho!

Comentários (0)